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UM HOMEM CHAMADO DAVI

Atualizado: 2 de dez. de 2023


INTRODUÇÃO Davi é uma das personalidades mais importantes da Bíblia, sendo a personagem mais citada no cenário bíblico. Segundo os estudiosos são cerca de 902 citações. A verdadeira personalidade de Davi sempre ficou camuflada por traz da imagem idealizada em torno de sua pessoa, ora de subestima ora de superestima ou hiper estima. A vida de Davi pode ser dividida em duas fazes. Antes de sua unção e depois de sua unção. A faze antes de sua unção caracteriza-se como a fase de sua subestimação e a faze pós-unção como a faze de superestimação. Desta forma, a verdadeira personalidade de Davi ficou ofuscada entre estes dois estremos, a subestima e a superestima. No entanto, Deus sempre conheceu Davi em sua essência, e deu provas disso em diversas passagens (1 Sm 15.28. 16.7. Sl 89.20. At 13.22)

Tanto a subestima como a superestima caracteriza-se uma maneira desvirtuada de julgarmos uma personalidade. Quando subestimamos alguém nos colocamos acima dele; quando supervalorizamos, nos colocamos em posição inferior. A atitude de subestimação é propícia para fazer brotar sentimentos negativos como desprezo e o ódio e, da mesma forma, a atitude de superestima, a idolatria, o sentimento de inferioridade, e o sentimento de subjugação. Ambos os excessos nos fazem contemplar um ideal desvirtuado de uma pessoa, o que poderá ser destrutivo tanto para aquele é mal interpretado, como para aquele que interpreta. Se eu sustento uma imagem desvirtuada de alguém sou induzido a acreditar em uma mentirá sobre ela, e aquele que é mal interpretado pode ser induzido a viver uma vida indiferente ou alheia a ele mesmo por medo de ferir expectativas seja positiva ou negativa. Na pessoa de Davi encontramos todos estes problemas, o que acarretou sérias consequências para a sua saúde emocional, e influenciando também em sua comunhão para com Deus. 1. DAVI ANTES DE SUA UNÇÃO Não temos qualquer detalhe de como foi a infância de Davi. Às informações que dispomos estão relacionadas à sua origem biológica. Davi era o menor de um total de oito filhos de Jessé o belemita. Jessé, o pai de Davi, pertencia a tribo de Judá, e era oriundo da aldeia de Belém (1 Sm 16,1,11). Belém seria no futuro a cidade do nascimento do messias, o herdeiro do trono de Davi (Mq 5.2). Os poucos relatos que temos de Davi antes de sua unção, estão no capítulo 16 de 1 Samuel. Ele era um jovem dedicado que vivia na casa de seu pai, e cuidava dos rebanhos. Fica evidente no contexto do capítulo 16, e nos capítulos subsequentes que a pessoa de Davi não era muito valorizada, apesar dos seus evidentes dotes. Samuel foi enviado por Deus a cidade de Jessé para ungir um de seus filhos como o próximo rei de Israel. A missão deveria ser sigilosa para evitar que Samuel viesse sofrer possíveis represálias por parte de Saul (v 3,4). Tudo indica que o sacrifício não foi realizado na casa de Jessé, como se subtende, mas em um lugar específico de sacrifícios na aldeia de Belém, sendo convidados para o sacrifício os anciãos da cidade, Jessé e seus filhos (v 5). A narrativa nos informa que Jessé e seus filhos foram purificados e vieram para o sacrifício (v6) e, ao entrarem, seus filhos foram submetidos ao crivo do Deus de Israel, mas nenhum daqueles se qualificou como o futuro rei de Israel. É interessante notar que Deus havia dito anteriormente a Samuel, que havia provido de um rei de entre os filhos de Jessé (v 1b), contudo, não revelou sua identidade e não antecipou nenhuma de suas características. Ao se deparar com o primeiro filho de Jessé (Eliabe), Samuel pensou em seu coração, “certamente está perante o Senhor o seu ungido” (v 6 b). Samuel tirou essa conclusão com base na nos traços físicos de Eliabe, no entanto, o Senhor lhe adverte: “Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração” (v 7). Samuel fez um julgamento baseado na imagem ideal de um rei socialmente e culturalmente constituída, (que de certa forma foi levada em consideração pelo próprio Deus na escolha de Saul – 1 Sm 9.2). No entanto, apesar de suas qualidades físicas, Saul decepcionou profundamente o Senhor. Contudo, a imagem ideal de um rei (que era tido como uma espécie de herói israelita) estava impregnada na mente de todos, e julgando por aquele perfil idealizado, Eliabe cumpria perfeitamente todos os requisitos, pois como sugere o versículo 7, era um homem alto e belo. Deus, no entanto, afirma com todas as letras (porque “eu” o tenho rejeitado v7). Deus poderia ter mostrado a Samuel quem seria o eleito dentre os filhos de Jessé, contudo, permitiu que ocorresse uma espécie de “processo seletivo” com o intuito de avaliar o perfil particular de cada candidato, contudo, se subtende que a verdadeira intenção do Senhor era confrontar o paradigma social de que o candidato ideal ao reinado deveria, por via de regra, ser um homem exteriormente excepcional. Deus queria corrigir de uma vez por todas o equívoco de se julgar os outros pela aparência, seja subestimando ou superestimando. Os sete filhos de Jessé ali presentes foram submetidos ao teste, mas Deus não escolheu nenhum deles. Diante deste fato Samuel exclama: “acabaram-se os jovens” (v 11) ao que respondendo Jessé diz “ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé envia e manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa da até que ele venha aqui”. Neste relato encontramos fatos suficientes para concluirmos que a personalidade de Davi era subestimada. Davi era considerado apenas o filho menor que cuidava das ovelhas, indigno de participar de um banquete em sacrifício ao Deus de Israel, e menos digno ainda de participar de um pleito de candidatura ao cargo de rei. Um filho menor que tinha como ocupação uma profissão tão comum, não tinha muitas chances de se tornar uma grande personalidade. Contudo, seus irmãos e seu próprio pai não tinha a menor ideia de como era a rotina daquele jovem pastor. Sua labuta diária, apesar de intensa e causticante, era marcada por acontecimentos um tanto incomuns. Sua vida simples escondia segredos e mistérios. Em sua lida diária solitária, Davi aprendeu grandes lições sobre o cuidado e provisão de Deus, por isso no Salmo 23 – se inspirando em seu próprio ofício de pastor, Davi exemplifica o cuidado e provisão de Deus na vida do crente. Além disso, aprendeu a cultivar preciosas virtudes como a arte da meditação e da reflexão, aprendeu na prática e através da observação a dependência de Deus. Além disso, em sua lida diária, Davi pode desenvolver sua intimidade e comunhão com o Senhor, o que naquele tempo tratava-se de algo muito raro. Quando estava prestes a enfrentar o gigante Golias, Davi contou algumas de suas experiências vivenciadas em sua ocupação. “Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai, e sempre que vinha um leão, ou um urso, e tomava um cordeiro do rebanho, eu saía após ele, e o matava, e lho arrancava da boca; levantando-se ele contra mim, segurava-o pela queixada, e o feria e matava. O teu servo matava tanto ao leão como ao urso; e este incircunciso filisteu será como um deles, porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo. Disse mais Davi: O Senhor, que me livrou das garras do leão, e das garras do urso, me livrará da mão deste filisteu. Então disse Saul a Davi: Vai, e o Senhor seja contigo (1 Sm 17.34-37). Este simples testemunho foi o suficiente para convencer Saul de que Davi tinha grandes chances contra o gigante, ou pelo menos era o que dentre eles dispunha da maior capacidade de vencê-lo, pois não é todos os dias que se encontra um jovem pastor matador de ursos e leões, e muito menos alguém que esteja disposto a enfrentar um gigante aparentemente invisível. Estava comprovado que aquele jovem rapaz não era uma pessoa qualquer, mas alguém que contava com o favor de Deus, alguém que como Sansão tinha o Espírito de Deus (1 Sm 16.13). Diante de uma situação tão difícil não havia qualquer esperança de vitória se não houvesse alguém dotado de dons divinos e não somente de habilidades de guerra. 2. AS HABILIDADES DE DAVI As habilidades desenvolvidas por Davi, eram na verdade dotes ou virtudes divinas, pois Davi usava suas habilidades em prol da causa do Deus de Israel.

  • Habilidades pastoris. Essa é a primeira de todas as habilidades citadas de Davi. Um pastor não era simplesmente alguém que apascentava ovelhas, deveria desenvolver habilidades de manejo, habilidades médicas, e acima de tudo habilidades de proteção, prevenção e de resgate. Davi possuía todas essas habilidades, por isso foi capaz de ilustrar com tanta maestria o cuidado de Deus pera com o seu povo no salmo 23.

  • Habilidades com harpa. Depois de ser ungido rei de Israel o Espírito do Senhor veio sobre Davi (1 Sm 16.13), e neste mesmo tempo, o Espírito de Deus se retirou de Saul (v14). Com a retirada do Espírito de Deus, Saul ficou à mercê de um espírito mal que o atormentava constantemente. Neste interim mandaram chamar Davi para que viesse tocar harpa diante de Saul e quando tocava ele sentia alívio (v 16-18). Sem dúvida, não era o som da harpa em si que fazia retirar aquele espírito mal, mas o fato de que aquele que manuseava o instrumento era um homem cheio do Espírito de Deus. A unção de Deus na vida de Davi era a causa principal de todas as suas façanhas. A música sacra tem o poder de tranquilizar a alma, servindo ao mesmo tempo de inspiração para alcançar o êxtase espiritual, para compor e para receber a revelação de Deus. Elizeu se utilizava de um tangedor para alcançar o êxtase e receber a palavra de Deus (2 Rs 3.15). Davi, igualmente, utilizava-se de sua harpa para compor e acompanhar o cântico dos salmos nos átrios da Casa do Senhor.

  • Habilidades de compor salmos. O salmo era uma espécie de cântico dedicado a exaltação e enaltecimento do Deus de Israel. Nosso atual livro dos Salmos, é em sua forma original uma coleção de cinco livros menores. Dos 150 salmos que formam o nosso livro dos Salmos, apenas cerca de 91 são de autoria de Davi. Este número pode ser inferior ou superior pois há alguns salmos anônimos, e outros atribuídos a Davi são colocados em dúvida. De qualquer forma, Davi escreveu a grande maioria dos salmos, que em sua suma formam a harpa da nação de Israel.

  • Habilidades de conquista, empatia. Davi possuía grande facilidade de conquistar os corações. Logo após enfrentar e matar o gigante Golias, Davi conquistou a amizade de Jonatas filho de Saul, uma amizade que se tornou profunda e significativa (1 Sm 18.1), logo em seguida conquistou todo o Israel, os servos de Saul e até mesmo do próprio Saul (1 Sm 18.5). As mulheres de todas as cidades de Israel o aplaudiam (v 6,7), conquistou o coração de Mical filha de Saul (v 28). A amizade de Davi com Jonatas, e o amor de Mical por ele salvaram sua vida da morte (1 Sm 19.13-18. 20.3-42). Aqueles que dantes subestimavam Davi (seus familiares), foram também por ele conquistados, e se ajuntaram com ele na caverna de Adulão, quando se escondia de Saul (1 Sm 22.1), logo em seguida Davi atraiu para ali cerca de 400 homens guerreiros, homens que estavam dispostos a qualquer coisa para defende-lo e defender também a causa de Israel (1 Sm 22.2). Depois de sair da caverna de Adulão, Davi e seus homens foram para Moabe e conquistaram o rei dos moabitas; de forma que em pouco tempo todo o Israel e Judá passaram a amar Davi (v 16). Em pouco menos de uma década, Davi passou da simples função de pastor de ovelhas ao cargo de rei da nação de Israel. No princípio era apenas o menino que matou o gigante, depois o encarregado da guarda pessoal do rei, depois capitão do exército de Israel, depois Rei em Hebrom, Judá, e por fim em todo o israel. Sua popularidade foi sendo de forma exponencial, não somente por seus atos heroicos, mas porque era um homem justo, que abominava qualquer forma de injustiças.

3. A REAL NATUREZA DE DAVI A imagem idealizada e retratada de um herói, um guerreiro imbatível e posteriormente de um rei sanguinário e conquistador, ofuscou alguns traços de da personalidade de Davi, que simplesmente foram ignorados ou simplesmente passaram despercebidos. Apesar de ser um homem aparentemente imbatível, Davi era um homem de personalidade branda, que tinha muitas carências afetivas, possuía suas próprias fraquezas e necessidades. Apesar de pertencer a realeza “quando se tornou genro do rei Saul”, e posteriormente tornando-se o próprio rei, Davi ainda agia como um homem simples do campo. Davi era, em sua essência, um homem gentil, dócil, simples; que tinha como ideal maior servir sua nação e a Deus; mesmo ocupando o posto mais elevado da nação. Em uma análise de sua história, podemos observar que Davi amava a vida simples do campo, amava a obediência e sua condição de servo. Na casa do seu pai serviu com total obediência e dedicação; da mesma forma como servo de Saul. Apesar dos muitos acontecimentos incomuns que faziam parte do seu cotidiano, como matar leões e ursos (1 Sm 17.34-37), compor canções tão inspiradoras sob o som de sua harpa (2 Sm 23.2), Davi ainda se considerava um homem comum, mas com um diferencial – temia ao Deus de Israel, e a ele atribuía suas façanhas. Nunca havia passado ao coração de Davi o intento de se tornar o Rei de Israel, mas por ocasião da eleição divina veio ocupar este posto. Contudo, mesmo ocupando o maior posto da nação de Israel, ainda se postava como um servo fiel e obediente. Isso não mudou em fase alguma da vida de Davi mesmo diante de suas recaídas. A conclusão que temos sobre a vida de Davi é que ele se achava forte quando vivia e se identificava com consigo mesmo e vivia sua verdadeira missão de servo (ex. a vitória sobre o gigante Golias – a façanha de conduzir a arca da Aliança a Jerusalém etc.). Neste segundo exemplo podemos observar algo bastante típico de Davi: “E sucedeu que, entrando a arca do Senhor na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela e, vendo o rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração” (2 Sm 6.16) “E, voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com Davi e disse: Quão honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem vergonha se descobre qualquer dos vadios. Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor que me escolheu a mim antes do que a teu pai e a toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor me tenho alegrado. E ainda mais do que isto me envilecerei e me humilharei aos meus olhos; e das servas, de quem falaste, delas serei honrado (2 Sm 6.20-22). Davi não hesitou em comemorar sua conquista em seu próprio estilo, “...ia bailando e saltando diante do Senhor” (v 16), mesmo que isso parecesse inadequado para alguém que assumia uma posição tão importante.

Quando era forçado a agir contra aquilo que de fato era em sua essência, se atropelava – exemplo de sua queda com Bateseba” (2 Sm 11.1). Sua queda com Bateseba aconteceu em uma circunstância especial, o tempo em que os reis saiam para guerra (v1). A vontade de Davi era, sem dúvida, estar na guerra com os seus compatriotas, mas talvez foi impedido por questões que não estão claras no texto. Como uma forma de passa tempo Davi dormiu, depois movido por uma ansiedade tamanha, foi passear no terraço do palácio. Sem dúvida, a ociosidade não era uma característica comum da rotina daquele rei de Israel. A queda de Davi se deu principalmente por ocasião a uma mudança de hábitos sua, e isso gerou aquilo que seria a base da sua queda: uma crise de ansiedade que gerou certa distração. Seu coração estava com certeza revoltado e frustrado. Se ele estivesse no campo de batalha, como obviamente ele gostaria de estar, sem dúvida, teria evitado aquele pecado e teriam poupado a si mesmo e os demais envolvidos de tamanha tragédia (2 Sm 12.10-12). Davi, contudo, reconheceu o seu pecado aceitou a repreensão do Senhor (1 Sm 12.13). CONCLUSÃO A história de Davi nos ensina diversas lições que merecem ser ponderadas:

  • Nem sempre a imagem que as pessoas idealizam de nós reflete aquilo que somos de verdade

  • Nem sempre desempenhamos papeis que refletem o que somos de verdade

  • As vezes nossas necessidades mais profundas, seja elas afetivas, psíquicas e espirituais ficam ofuscadas ou reprimidas pela vida de aparências que levamos.

  • As pessoas sempre veem em nós aquilo que nós acreditamos ser, mesmo que nossas crenças sobre nós mesmos estejam equivocadas. Nossas crenças nos limitam ou nos promovem. Devemos procurar remover toda e qualquer crença limitante e nos apropriar daquelas que realmente reflete o que somos.


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