TEXTO BÍBLICO: (MATEUS 5:13-16)
Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.
INTRODUÇÃO Jesus sempre usou alegorias para fazer comparações ou assimilações. A intenção é ensinar uma lição ou verdade por meio daquilo que é conhecido. A alegoria se utiliza de coisas de uso comum, do contexto doméstico, agricultura, pastoril, etc. Segundo os historiadores, o uso do sal era comum na palestina nos tempos de Jesus. Usava-se, principalmente para condimentar comidas, e conservação de alimentos. O uso de acessórios que produzia a luz “lamparinas, candelabros, candeeiros” também eram bastante comuns. Bastava entrar em uma casa daqueles tempos, no princípio da noite, que se via uma lamparina acessa iluminando o interior da casa. Quanto mais comum, e mais usado era o objeto de comparação da alegoria, mais facilidade os ouvintes teriam de assimilar a mensagem. Menção do sal nas Escrituras Como já mencionamos, o sal era de uso comum nos tempos bíblicos (Ed 7.22), tanto no contexto doméstico, como religioso. Tratava-se de um elemento bastante conhecido, pois era bastante consumido. No contexto geral das Escrituras, o sal é mencionado diversas vezes
O sal foi usado como um dos ingredientes do incenso sagrado do tabernáculo “e disto farás incenso, um perfume segundo a arte do perfumista, temperado com sal, puro e santo;” (Ex 30.35).
Para temperar as ofertas de cereal que eram oferecidas do altar. “Todas as suas ofertas de cereais temperarás com sal; não deixarás faltar a elas o sal do pacto do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal (Lv 2.13).
Associado a promessas, como um símbolo de sua perpetuidade:
Dos levitas “Todas as ofertas alçadas das coisas sagradas, que os filhos de Israel oferecerem ao Senhor, eu as tenho dado a ti, a teus filhos e a tuas filhas contigo, como porção, para sempre; é um pacto perpétuo de sal perante o Senhor, para ti e para a tua descendência contigo” (Nm 18.19). De Davi “Porventura não vos convém saber que o Senhor Deus de Israel deu para sempre a Davi a soberania sobre Israel, a ele e a seus filhos, por um pacto de sal? ” (2 Cr 1315).
Para purificação
Da cidade de Siquém por Abimeleque “Abimeleque pelejou contra a cidade todo aquele dia, tomou-a e matou o povo que nela se achava; e, assolando-a, a semeou de sal” (Jz 9.45). Das aguas amargas, por Elizeu “E ele disse: Trazei-me um jarro novo, e ponde nele sal. E lho trouxeram. Então saiu ele ao manancial das águas e, deitando sal nele, disse: Assim diz o Senhor: Sarei estas águas; não mais sairá delas morte nem esterilidade” (2 Rs 2.20,21). Israel “E, quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água, para te alimpar; nem tampouco foste esfregada com sal, nem envolta em faixas; (Ez 16.4).
Como sinônimo de equilíbrio
“A vossa palavra seja sempre com graça, temperada com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” (Cl 4.6).
Resumindo, o sal foi usado nas Escrituras como símbolo de purificação, preservação, perpetuidade, equilíbrio. As propriedades exclusivas do sal servem como um ponto de partida para a aplicação desses simbolismos, pois literalmente ele é usado como condimento “tempero”, e na preservação de alimentos “carnes e legumes”.
Mas, porque Jesus comparou os agentes do Reino ao sal? Que lição Jesus queria ilustrar ao comparar o crente ao sal?
O contexto imediato é a chave para entendermos essa alegoria.
O crente como sal da terra
Jesus disse “mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? Para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens” (Mt 5.13). O sal possui uma utilidade básica “condimentar e preservar os alimentos”, se ele se tornar insípido “sem sabor”, não servirá mais para nada. Atualmente, talvez não temos a informação de que o sal perdesse sua capacidade de salgar. Para nós, sal sempre será sal. Talvez Jesus não falasse exatamente da perca de propriedade do sal, mas da sua adulteração ou mesclagem. Um sal sujo ou misturado com outros elementos, não serve para o uso doméstico, em outras palavras “não serve para nada”.
O sal misturado, ou sem sabor “insípido”, era jogado fora nas ruas, e aí era pisado pelos homens. Os historiados modernos atestam a veracidade desta informação, e acrescentam ainda que o sal adulterado “sem sabor” também era usado como adubo, e até mesmo para pavimentação de estradas.
Mas qual a lição moral disso tudo?
O sal representa a transparência da vida cristã, ou o nosso testemunho público. Se a vida cristã perde a sua essência “como o sal a sua propriedade”, não tem mais nenhum valor. Talvez Jesus usou essa alegoria tendo em mente a hipocrisia dos religiosos de sua época “escribas, fariseus”. O testemunho dos religiosos dos tempos de Jesus, por mais que fosse legítimo “conforme a lei de Moisés”, era ineficaz, pois havia perdido sua essência.
O crente que abandona sua verdadeira identidade cristã, perde sua essência, seu testemunho não é mais válido. Uma vida cristã adulterada ou mesclada fica “sem sabor” e não serve para a nada, a não ser como contribuição para que os ímpios venham escarnecer da fé. Devemos viver o que pregamos e pregar o que vivemos. Alguns veem nas palavras de Jesus, uma referência a apostasia do crente.
Lembre-se, você é o sal da terra. Sua vida cristã deve ser legítima, transparente e pura. O crente é o equilíbrio do mundo espiritual com o mundo físico. Se não há o verdadeiro sal da terra, tudo será inútil.
O crente como luz do mundo
Deus é o criador da luz (Gn 1.3), e Ele mesmo é luz “E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele trevas nenhumas” (1 João 1:5). Deus criou a luz a luz e viu que ela era boa “e fez Deus separação entre a luz e as trevas” (Gênesis 1:4). Deus fez o sol e a lua e as estrelas (Gn 1.16), o sol para governar o dia e a lua e as estrelas para governar a noite. Hoje, com avanço da ciência, sabemos que a lua e as estrelas não têm luz própria, elas refletem a luz do luminar maior, o sol. Jesus é chamado de “o sol da justiça”, na profecia messiânica de Malaquias (Ml 4.2). Em João, o próprio Jesus se auto intitula a luz do mundo “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8.12).
Jesus é o “sol da justiça”, a fonte da luz do mundo, o crente reflete a luz de Cristo e também é chamado por ele de luz do mundo (Mt 5.14a). Como sol, Jesus é a fonte da luz, o crente como um astro inferior, reflete a luz que vem de Cristo. Se não estamos em Cristo, estamos em trevas, não há nenhuma luz a ser refletida a parte de Cristo.
A luz não pode ser escondida, pois onde ela está as trevas se dissipam, contudo, se acedemos uma lamparina e a colocamos debaixo do alqueire “bolsa de medida”, ela perderá seu brilho e se apagará. O fogo da lamparina depende de três elementos fundamentais “o combustível, que fornece energia para a queima “no caso o azeite”; o comburente, que é a substância que reage quimicamente com o combustível “o pavio da lamparina”; e o calor “faísca de fogo”, que é necessário para iniciar a reação entre combustível e comburente[1]”. Mas um quarto elemento é essencial “o oxigênio”, quando se coloca uma lamparina acesa debaixo de algum recipiente fechado “alqueire”, o fogo se apaga pois falta o oxigênio.
Esta aplicação de Jesus do crente como “luz do mundo”, alude essencialmente a ideia do crente como “sal da terra”. As duas comparações ensinam a mesma verdade “a vida cristã só terá sentido se mantermos a forma cristã original”. Assim com o sal não serve para nada se tornar insípido “sem sabor”, a lamparina acessa não servirá se colocada debaixo do alqueire”.
CONCLUSÃO
“Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”. A luz simboliza o testemunho cristão. Crente sem testemunho, é uma lamparina apagada. A ideia da apostasia do crente, sem dúvida, também, está implícita nessa figura.
Se Cristo resplandece em sua vida, deixa essa luz resplandecer através de seu testemunho, para que todos possam ver as suas boas obras, e glorifiquem a Deus por tudo.
[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Tri%C3%A2ngulo_do_fogo