Introdução
O capítulo 13 de Mateus, registra a segunda coleção de ensinos de Jesus. A Primeira coleção de ensinos se encontra nos caps. 5-7 e é chamado de “sermão do monte ou da montanha”. O sermão da montanha é designado pelos estudiosos como a ética do Reino de Deus. Essa segunda coleção, contem 7 ou talvez 8 parábolas, proferidas por Jesus, que apresentará aspectos externos e internos do Reino de Deus. Estes aspectos são apresentados com base na perspectiva divina, e ao mesmo tempo pela perspectiva do agente do Reino. Em outras palavras apresenta o aspecto funcional do Reino de Deus. A última coleção de ensinos de Jesus no livro de Mateus, é o famoso “sermão profético” que abrange os caps. 24-25. Estas três coleções de ensinos de Jesus, nem sempre pretende apresentar uma ordem cronológica dos fatos. O Evangelho de Mateus não é cronológico, mais tópico, isso é, as narrativas foram implementadas levando em consideração, sua natureza, assunto, caráter e relevância. A parábola A parábola é uma figura de linguagem comum nas Escrituras, contudo, podemos atribuir a Cristo a autoria deste método de ensino. A parábola significa “colocar coisas lado a lado”, isso é, fazer comparações. A parábola se utiliza de uma figura conhecida, geralmente extraída do contexto doméstico, da agricultura, da pesca, do trabalho, etc; para ensinar uma verdade desconhecida. Das sete ou oito parábolas proferidas por Jesus neste contexto, apenas 2 foram interpretadas, “a parábola do semeador” e a “parábola do trigo e do joio”. As demais não foram interpretadas, o que exigirá do leitor certo cuidado não hora de tentar conhecer seu real significado. Acreditamos que os leitores imediatos de Mateus, ou quem sabe os próprios ouvintes de Jesus, como os discípulos, entenderam a mensagem das parábolas de Jesus (Mt 13.51). A parábola se utiliza de figuras, coisas e símbolos para expor uma verdade ou princípio. Para os contemporâneos dos apóstolos, entender essas palavras seria, sem dúvida mais fácil do que para nós, leitores do século 21. Vivemos em um contexto religioso, cultural, político, social totalmente diferente daquele dos tempos do Senhor Jesus. Não estamos, como os contemporâneos de Jesus, familiarizados a todos os detalhes apresentados nas parábolas, coisas, figuras, pessoas, etc. Contudo, isso não significa que é impossível interpretar perfeitamente as parábolas de Jesus, mas que isso, para nós hoje, custará um esforço a mais. Interpretando uma parábola O primeiro, e o maior princípio de interpretação bíblica é que, a Bíblia interpreta a si mesma. Portanto, conhecer o contexto bíblico é fundamental na interpretação de qualquer passagem da Bíblia. O Contexto bíblico pode ser imediato ou remoto. O contexto imediato é o próprio texto em estudo, podendo ser os versículos que vem antes ou depois. O contexto imediato é um recurso poderoso capaz de determinar por si só o sentido de uma palavra, objeto, coisas. Nem sempre uma palavra tem o mesmo significado em todo contexto bíblico. Assim também são as figuras e os objetos. O contexto remoto são outros versículos, capítulos e livros que ficam mais distantes. Este também, é um recurso mais poderoso ainda, capaz de esclarecer temas, elucidar ideias, determinar o sentido comum das palavras, coisas e objetos. Todos esses métodos de interpretação se aplicam também às parábolas. O contexto bíblico geral, determinará o sentido mais comum do uso dos símbolos, objetos, palavras. Outra maneira que facilitará na interpretação das parábolas é descobrir sua natureza e propósito, isso é, sobre que tema ela supostamente está tratando. Os detalhes e os elementos contidos em uma parábola são fundamentais para sua interpretação, portanto, na hora de identificar esses detalhes, é necessária cautela, para não passar despercebidos alguns pormenores e nem supervalorizar demasiadamente pontos, que não tem nenhuma importância na interpretação. Alguns detalhes estão presentes apenas para dar sentido a parábola, mas não tem uma aplicação prática. Se estas regras não forem levadas em consideração, corremos o risco de comprometer nossa interpretação. Uma aplicação infundada, por mais interessante que seja não poderá jamais substituir a verdadeira interpretação bíblica. A parábola do semeador A parábola do semeador, é a primeira das 7 parábolas proferidas por Jesus no capítulo 13 de Mateus. É a mais extensa delas, e provavelmente a que detém a interpretação mais relevante. A parábola do semeador foi registrada pelos três evangelistas sinópticos. Após proferir tal parábola, Jesus mesmo faz questão de interpretá-la. Já que a parábola do semeador foi interpretada por Jesus, não precisamos mais nos preocupar em descobrir o significado de cada elemento ou coisas mencionadas na parábola, apenas nos resta ponderarmos nas palavras de Jesus. Em uma parábola, podemos destacar quais são os seus elementos fundamentais, e quais elementos são secundários. Para chegarmos a essa conclusão basta lermos atenciosamente o texto várias vezes e estar atento a cada detalhe. Os elementos da parábola do semeador Os elementos principais da parábola do semeador, são aqueles que terão significação na interpretação, portanto destacamos os principais.
A semente – simboliza a Palavra de Deus
O semeador – simboliza Cristo
Os terrenos – simbolizam corações
As aves – símbolo da influência diabólica sobre a humanidade
O sol – símbolo da perseguição contra os santos
Os espinhos – símbolo dos cuidados desta vida
Os simbolismos desses elementos básicos foram apresentados pelo próprio Jesus. Portanto, não nos resta mais qualquer tentativa de reinterpretar essa parábola, apenas nos aprofundar na interpretação de Cristo. Para conhecermos perfeitamente a interpretação de Jesus de cada elemento, é necessário fazermos uma comparação das três narrativas (Mt 1.9; Mc 4.3-9 e Lc 8.4-8),
A semente, “a palavra de Deus”, foi semeada em 4 terrenos “corações” distintos. Cada terreno tem suas características distintas “qualidade do coração” e sofre influencias de outros elementos exteriores.
O semeador
Jesus não afirmou claramente nesta parábola que ele seria o semeador, mas, na parábola do trigo e do joio ele afirma: “O que semeia a boa semente é o Filho do homem” (Mt 13.37). O semeador é o próprio Jesus que semeia a palavra do Reino, e em segundo plano os seus discípulos também são semeadores da palavra de Deus, isso é, das boas novas de Cristo (Mt 28.18,19; Mc 16.5).
A semente
“É, pois, esta a parábola: A semente é a palavra de Deus” (Lc 8.11).
A Palavra de Deus é a semente pura que brotando no coração do homem, germina, cresce e frutifica. A palavra é uma semente pura com um poder máximo de germinação, se por algum motivo ela deixar de germinar no coração do homem, a causa não é a semente em si, mas a condição do terreno, isso é, o coração do homem. A maneiro como tratamos a Palavra de Deus em nossos corações determinarão seus efeitos em nossas vidas.
Os terrenos
Os terrenos simbolizam corações. Cada coração possui características próprias que podem ou não permitir que a palavra de Deus venha nascer, crescer e frutificar.
Ao pé do caminho (v 4). É o terreno duro, impenetrável, por causa do trânsito de pessoas por ele. Trata-se do coração insensível onde a palavra de Deus jamais poderá penetrar.
A semente que caiu ao pé do caminho foi apanhada pelas aves, pois estavam na superfície da terra. As aves simbolizam a influência do diabo na vida do homem “A todo o que ouve a palavra do reino e não a entende, vem o Maligno e arrebata o que lhe foi semeado no coração; este é o que foi semeado à beira do caminho” (Mt 13.19).
Compreender a palavra de Deus é um processo importante para que ela venha frutificar em nossas vidas. A compreensão está relacionada ao intelecto “inteligência”, “mente”. O inimigo de nossas almas trabalha com o intuito de impedir com que as pessoas compreendem a mensagem de Deus, afim de que ela não venha conhecer a verdade.
O intelecto tem uma participação importante na vida do salvo
É pela renovação da mente que podemos experimentar a boa, perfeita e completa vontade de Deus (Rm 12.2).
Devemos amar ao Senhor Jesus com todo o nosso coração e entendimento (Mt 22.37; Mc 12.30,33).
O diabo trabalha com o intuito de bloquear a compreensão da palavra afim de que a verdade de Deus não venha resplandecer sobre a mente humana (2 Co 4.4).
Entre pedregais (v 5). Fala do coração superficial onde a semente penetra, mas não encontra as condições adequadas para lançar raízes mais profundas. As pedras, que ocupa o espaço da terra fértil no solo e subsolo representam os empecilhos da vida, que impede o crescimento do crente. O sol, que faz secar a planta rasa, simbolizam as perseguições desencadeadas por causa de Cristo e da sua Palavra “E o que foi semeado nos lugares pedregosos, este é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e sobrevindo a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza (Mt 13.20,21).
Se uma planta não tem raiz, não possui resistência contra os elementos naturais, chuvas, tempestades, ventos. Assim, também o crente que não possui raiz “conhecimento”, “estabilidade”, não pode resistir aos ataques externos do inimigo.
Pedro recomenda: “antes crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como até o dia da eternidade” (1 Pd 3.19).
Se o crente possui raiz “estabilidade”, ele terá condições de resistir toda espécie de perseguição que lhe for desencadeada pelo inimigo por causa de sua fé.
Entre espinhos (v 7). Fala do coração ocioso, que vive preocupado com as coisas deste mundo e se esquece da provisão de Deus. “E o que foi semeado entre os espinhos, este é o que ouve a palavra; mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e ela fica infrutífera (Mt 13.22).
Deus promete em sua palavra abençoar “prosperar” aqueles que são tementes a ele (Sl 128.1). Essa prosperidade, no entanto, não se limita ao conceito de possuir bens financeiros.
Deus pode também abençoar os seus servos com bens financeiros, mas essa nunca foi e nem será o propósito principal de Deus para a vida do homem nessa terra.
O desejo desenfreado em “possuir, ter, conquistar”, pode servir de laço para a vida do crente e tornar inerte seus frutos no Reino (1 Tm 6.6-10).
Quando cuidamos dos interesses de Deus, Deus cuida dos nossos interesses (Mt 6.33).
Boa terra (v 23). A boa terra lembra o coração fértil, que não se encontra sujeito a nenhuma influência exterior capaz de impedir os seus frutos, “Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve a palavra, e a entende; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta (Mt 13.23).
A expressão “e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta”, é uma referência a capacidade frutificadora do terreno fértil, ou ao seu percentual de frutos em sua vida útil. Isso é, as sementes que germinaram no campo fértil foram frutificando até alcançar seu potencial máximo. Isso também Deus espera de nós. Fomos chamados para produzir frutos e frutos com abundancia (Jo 16.15). CONCLUSÃO A parábola do semeador ilustra uma lição importante: As palavras do Reino, serão anunciadas a todas as categorias de pessoas, e muitos a receberão, mas poucos responderão positivamente a ela. Apenas uma minoria frutificará satisfatoriamente no Reino e satisfarão as expectativas do Semeador por excelência, Jesus. Obrigado por chegar conosco até aqui, esperamos que tenha aprendido mais um pouco sobre a “parábola do semeador”. Convidamos você para estar conosco no próximo estudo. Aguarde!
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