TEXTO BÍBLICO: 2 TIMÓTEO 2.1-4
INTRODUÇÃO
Paulo, se utiliza de três figuras ou alegorias para ilustrar as disciplinas da fé cristã. Na verdade, Paulo pretende introduzir não apenas um conceito de disciplina, mas um conceito de carreira da fé da qual a disciplina é uma parte importante.
A carreira da fé é regida pelos seus próprios princípios e valores, e todos os cristãos precisam estar a par desses princípios se de fato almejam percorrer a carreira da fé com sucesso.
Nesse sentindo, o sucesso não será garantido apenas pela intenção do crente em querer avançar, ou de querer completar a carreira. Trata-se de uma atividade que exigirá muita renúncia, dedicação, paciência e esperança. Para aludir a essas verdades, Paulo se utiliza de três alegorias extraídas da vida cotidiana: o soldado, o atleta e o agricultor.
O soldado jamais poderá agradar aquele que o alistou para a guerra sem renunciar a si mesmo pela causa do seu comandante ou do seu país. “...Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra (2 Timóteo 2:3,4)”. No soldado temos a lição da renúncia e da abnegação.
Na figura do atleta temos o princípio da dedicação e da disciplina: ...E, se alguém também milita, não é coroado se não militar conforme as regras (2 Timóteo 2:4,5).
E, por fim temos no agricultor a lição da paciência e da esperança: “...O lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos (2 Timóteo 2:5-7)”.
A CARREIRA DA FÉ É REGIDA POR LEIS PRÓPRIAS
Toda carreira é regida por princípios que lhe são peculiares. A carreira da fé também não é diferente. A carreira da fé é regida por princípios próprios que precisam ser considerados por todos àqueles que entraram para ela.
A carreira é uma espécie de jogo. Todo jogo possui regras que regem o seu funcionamento. Da mesma forma a corrida da fé é como se fosse um jogo regido por regras próprias que não podem ser violadas.
Por isso Paulo salienta: “...Semelhantemente, nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com as regras” (2 Timóteo 2:5). Mas, o que significa competir de acordo com as regras quando o assunto é a corrida ou a carreira da fé? Significa encontrar um balanceamento entre os dois elementos principais que regem o princípio de carreira: o princípio do sacrifício e da recompensa.
TODA CARREIRA É REGIDA PELO PRINCÍPIO DO SACRIFÍCIO E DA RECOMPENSA
Qualquer carreira humana é regida pelo princípio do sacrifício e da recompensa, pois sem sacrifícios não pode haver recompensas e sem as recompensas não há motivação para os sacrifícios.
Paulo diz para Timóteo: “Suporte comigo os sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus (2 Timóteo 2:3). Contudo, quando Paulo introduz o conceito de sofrimento ou sacrifício, ele não está falando de um desgaste irracional por uma suposta causa do Reino, em outras palavras Paulo não estão falando de uma automutilação, mas de um princípio de preservação ou de manutenção. Há sacrifícios que são imprescindíveis na carreira da fé. Há sacrifícios necessários, mas também há sacrifícios desnecessários e esses tais sacrifícios inúteis podem prejudicar aquele que postula a carreira, seja na perspectiva do soldado, do atleta ou do agricultor. O Escritor de provérbios fala do sacrifício de tolo (Ec 5.1). O sacrifício de tolo pode ser compreendido como qualquer sacrifício que foge ao padrão exigido por Deus.
Por exemplo: as Escrituras afirmam que Deus fulminou os dois filhos de Arão, Nadabe e Abiú por trazerem fogo estranho perante o Senhor (Lv 10.1,2). Eles quebraram uma regra dada por Deus que nenhum fogo estranho deveria ser trazido a sua Presença. Uza, também foi fulminado na presença do Senhor por que tocou na arca da Aliança no intuito de impedir que ela caísse (2 Sm 6.8). As intenções de Uzá eram boas, mas contrariou uma regra defina pelo Senhor, que somente os levitas descendentes de Coat poderia tocar na Arca e transportá-la. Saul, foi rejeitado pelo Senhor porque violou o mandamento do Senhor, quando ofereceu o sacrifício que era devido somente aos sacerdotes (1 Sm 13.8-13). Assim, fica explícito que o Senhor não leva em conta somente as intenções, ele quer que militemos conforme as regras que ele têm determinado.
Portanto, ao fazer menção das figuras do soldado, do atleta e do agricultor, Paulo usa três expressões para reafirmar que o princípio do sacrifício que rege a carreira cristã deve ser entendido dentro da perspectiva própria da fé cristã, ou mais propriamente das Escrituras Sagradas.
Com relação ao soldado, Paulo diz: “Suporte comigo os sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus” (2 Timóteo 2:3), e “Nenhum soldado se deixa envolver pelos negócios da vida civil, já que deseja agradar aquele que o alistou” (2 Timóteo 2:4).
A expressão “bom soldado” alude a ideia de um soldado disciplinado, prudente, que não se expõe, ou que não coloca a sua vida em risco por qualquer motivo comprometendo o sucesso da missão.
A expressão “não se embaraça com as coisas desta vida” significa afirmar que esse soldado é seletivo, disciplinado, responsável consigo mesmo e com a causa do seu comandante. Ele não fará um sacrifício que não condiz com os princípios ou valores da causa da guerra.
Com relação ao atleta, Paulo afirma: “...nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com as regras” (2 Timóteo 2:5).
O bom atleta compete conforme as regras. Isso significa afirmar que ele não faz as coisas do seu jeito, não atropela os seus próprios princípios e valores, e os valores definidos para a competição.
Se um atleta feri as regras do jogo ele pode ficar desclassificado. Apesar de necessitar de uma de uma rotina diária de treino e disciplina, o atleta não vai além da sua capacidade, pois isso poderia comprometer severamente sua estrutura física, e consequentemente sua performance no dia da competição.
Com relação ao lavrador, Paulo afirma: “O lavrador que trabalha arduamente deve ser o primeiro a participar dos frutos da colheita” (2 Timóteo 2:6).
Isso significa afirmar que ele não vai extrapolar os limites. Vai respeitar as leis estabelecidas que regem todas as fases do fruto, bem como respeitará sua própria capacidade. O lavrador tem a esperança de ser participante do fruto, portanto ele será paciente e prudente consigo mesmo, não trabalhando em excesso, mas de uma forma equilibrada.
Seu trabalho deve ser duro, mas não autodestrutivo. O trabalhar sábio sabe perfeitamente equilibrar as coisas. Não permite que seu trabalho seja negligenciado, mas se resguarda de avançar para além da sua capacidade.
Trazendo estas lições para a nossa realidade, Deus não quer que façamos um sacrifício que não condiz com os valores e princípios que regem a fé cristã. O sacrifício pelo Reino não pode se tornar autodestrutivo ou um autoflagelo. Ele precisa ser abnegado, mas não um suicídio, ele precisa ser dedicado, mas não imprudente, ele deve ser árduo, mas jamais um autoflagelo.
Para o soldado, não pode haver vitória sem batalha; para o atleta não há medalhas sem disputas; e, para o agricultor, não pode haver colheita sem trabalho duro. Esse esforço, contudo, dever entendido dentro da perspectiva da disciplina, que é o elemento nivelador do princípio do sacrifício e da recompensa.
O PRINCÍPIO DO SACRIFÍCIO E DA RECOMPESA É REGIDO PELA DISCIPLINA
A disciplina é o elemento regulador entre sacrifício e recompensa. Falamos muito sobre a questão do sacrifício no tópico anterior, mas pode haver o risco de nós também querermos priorizar apenas a recompensa.
Se o soldado pensa apenas na recompensa da vitória, sem levar em consideração as leis da guerra, põe em risco sua vida e a do seu batalhão. Igualmente o atleta que está focado apenas na coroa, pode ficar distraído para muitas outras questões relevantes que pode comprometer sua performance. Também, o agricultor muito ansioso pela chegada dos frutos, pode ficar insensível para alguns outros detalhes relevantes.
Portanto, é preciso haver um equilíbrio entre sacrifício e recompensa. Na verdade, o princípio do sacrifício e recompensa equilibra o jogo. Sem uma promessa de recompensa quem se manterá focado ou dedicado? E, sem o sacrifício, qual será o sentido da conquista ou da vitória?
Na perspectiva da carreira ou da corrida da fé, o sacrifício pelo Reino deixa de ser apenas um sofrimento ou desgaste. O sacrifício pela causa do Reino se torna a parte inerente da conquista. Isso é, uma parte fundamental e essencial dela. Assim o sacrifício deixa de ser visto como um problema e passa a ser visto como parte da solução.
Quando falamos de disciplina estamos nos referindo a um conceito que vai além de cumprir determinadas regras ou de estabelecer uma rotina. Estamos falando de um equilíbrio entre o que se faz e o que se deseja.
A CARREIRA DA FÉ É FORMADA POR CICLOS
Uma única batalha não significa que a guerra está ganha; uma única competição não significa que o jogo está ganho; e, uma única colheita não significa que a missão do lavrador está concluída.
A carreira é formada for ciclos que se renovam de tempos em tempos. As batalhas travadas pelo soldado no campo de guerra são muitos peculiares, onde em cada uma delas é necessário aplicar táticas específicas; cada competição vivenciada pelo atleta difere uma da outra em diversos aspetos; e por fim, cada colheita realizada pelo agricultor difere em grau e intensidade uma das outras.
As vezes a colheita produz mais, as vezes menos; as vezes as ervas daninhas crescem mais e as vezes menos; as vezes o sol e as chuvas são mais intensos, e as vezes menos intensos prejudicando o crescimento e desenvolvimento do fruto. Contudo, mesmo diante das incertezas, o trabalhador permanece paciente e esperançoso.
Assim, em todos os casos, o sucesso de cada ciclo depende de muitos fatores. Por mais que o soldado, o atleta e o agricultou sejam disciplinados ou dedicados, sempre existirá um quê de incertezas, pois as circunstâncias podem trazer incertezas, contudo, mesmo vivendo sob incertezas, o que entra para a carreira não deve se permitir intimidar, mas manter a sua postura e o seu ritmo, pois mesmo vivendo uma expectativa aparentemente incerta, os resultados não poderão vir por outro meio senão pela disciplina e pela dedicação.
Trazendo para a nossa realidade, precisamos também estar cientes que a carreira cristã é formada por ciclos, que se renovam de tempos em tempos. Cada fase traz as suas peculiaridades, e nesse processo cabe uma característica que também é vital, a flexibilidade. Novas habilidades, estratégias e técnicas precisam ser adaptadas e reinventadas de acordo com que a circunstância demanda.
A carreira da fé só termina quando Deus decide que ela deve encerrar. Isso é, quando somos chamados para a prestação de contas diante dele. Enquanto isso não ocorre, precisamos manter nossa marcha e nosso ritmo, vencendo e superando todos os obstáculos e desafios que a carreira nos impõe.
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